°Aviação °Documetário
Por Redação Informando Melhor | Atualizado em 30/10/2025
Sinopse
Este documentário-texto destrincha o uso e o abuso do termo “break break” nas comunicações por rádio aeronáutico. Vai da origem histórica da expressão à diferença técnica entre pedir passagem e declarar emergência; explica como a padronização salva vidas; detalha procedimentos operacionais (MAYDAY / PAN-PAN); e mostra o papel do controlador, do piloto e da regulamentação. Leitura essencial para pilotos, controladores, instrutores, estudantes de aviação e operadores de rádio.
1 — Breve história e origem do termo “break”
O termo “break” nasceu na prática dos radiotelegrafistas e operadores de rádio para indicar interrupção, separação de blocos de mensagem ou pedido de passagem em canais congestionados. Em ambientes militares e civis, o redundancy do “break break” passou a ser usado coloquialmente para reforçar urgência — mas sem status formal em normas internacionais de aviação. Essa dissonância entre uso coloquial e fraseologia formal é a raiz da confusão operacional que discutimos aqui.
Referência técnica: a ICAO consolida fraseologias padronizadas nos seus documentos e manuais — o Manual of Radiotelephony (Doc 9432) e o PANS-ATM (Doc 4444) explicam o papel da fraseologia padronizada como elemento de segurança. :contentReference[oaicite:0]{index=0}
2 — A diferença que mata: “break break” vs MAYDAY / PAN-PAN
Em aviação, palavras têm prioridade operacional clara:
- MAYDAY — declaração formal de socorro: vida em risco imediato; requer ação imediata de ATC e coordenação SAR. Começa com MAYDAY, MAYDAY, MAYDAY seguido de identificação, posição, natureza da emergência, intenções e número de pessoas a bordo.
- PAN-PAN — situação urgente, sem ameaça imediata de morte; usado para problemas sérios que exigem prioridade, mas não interrupção total do tráfego.
- BREAK / BREAK BREAK — na prática, usado para pedir passagem na frequência; não é substituto de MAYDAY/PAN-PAN e pode ser mal interpretado por ATC ou por outras aeronaves.
Normas e guias (ICAO Annex 10; PANS-ATM Doc 4444; Manual of Radiotelephony Doc 9432) deixam claro: use MAYDAY e PAN-PAN para emergências/urgências. Improvisos na fraseologia reduzem garantia de resposta. :contentReference[oaicite:1]{index=1}
3 — Como declarar corretamente: roteiro prático para pilotos (passo a passo)
- Avalie — vida em risco imediato? → MAYDAY. Problema sério, sem ameaça de morte imediata? → PAN-PAN.
- Priorize — aviage: “Aviate, Navigate, Communicate”. Se houver tempo, configure transponder para 7700 (emergência) ou 7600/7500 conforme perda de rádio ou interferência ilícita.
- Transmissão padrão (MAYDAY) — iniciar com MAYDAY, MAYDAY, MAYDAY, depois: estação a quem se dirige, identificação, posição, natureza da emergência, intenções, número de pessoas a bordo e combustível restante se relevante. Exemplo: MAYDAY MAYDAY MAYDAY — PR-ABC — 10 NM S SBGR — engine fire — descending to 5,000 ft — request immediate vectors and emergency services — 4 souls on board.
- Transmissão padrão (PAN-PAN) — iniciar com PAN-PAN, PAN-PAN, PAN-PAN e seguir estrutura semelhante, omitindo a declaração de vida em risco.
- Se a frequência estiver congestionada — mantenha transmissões curtas e repetitivas; ATC pode responder pedindo repetição ou designando frequência alternativa.
Guia prático do FAA e dos manuais ICAO descrevem exatamente essa ordem de elementos e reforçam que, se MAYDAY/PAN-PAN não forem usados mas houver suspeita de emergência, o ATC deve tratar a ocorrência como emergência. :contentReference[oaicite:2]{index=2}
4 — Como o controlador age ao receber MAYDAY / PAN-PAN
Procedimentos do ATC ao receber MAYDAY:
- Interrompe comunicações não essenciais;
- Concede prioridade de tráfego e vetores imediatos;
- Coordena recursos de emergência (SASP/SAR, bombeiros, ambulância, serviços aeroportuários);
- Fornece informações críticas (vetores, vento, pista, condições do aeródromo) e, se necessário, alterna frequência para coordenação com autoridades de emergência.
Se o ATC receber “break break” sem clareza, é obrigado a pedir repetição/clarificação — atraso operacional que pode ser crítico. Por isso a ênfase regulatória na fraseologia padronizada. :contentReference[oaicite:3]{index=3}
5 — Casos, falhas e lições práticas (análise documental)
Não vou citar acidentes específicos sem fonte única, mas a literatura operacional e os manuais de investigação mostram um padrão: comunicações ambíguas contribuem para perda de tempo na cadeia de resposta. Exemplos típicos nas análises: piloto usa termos não-padrão; ATC pede repetição; a aeronave perde janela de pouso prioritário; coordenação SAR é atrasada. Lições claras: padronize, treine e registre transmissão de emergência em checklist.
Fontes normativas e guias de investigação recomendam registro em áudio das comunicações para pós-análise e melhoria de procedimentos. :contentReference[oaicite:4]{index=4}
6 — Guia de treinamento: exercícios que salvam
Programa mínimo para escolinha/empresa/organização aérea:
- Simulações mensais de MAYDAY/PAN-PAN em cenários variados (fogo em motor, perda de pressurização, pane total de elétrico, emergência por combustível);
- Treino integrado piloto + ATC em roleplay com gravação e debriefing;
- Checklist de comunicações de emergência no kneeboard/painel com texto exato para leitura em crise (script simplificado);
- Revisões semestrais do MCA-100-16 (Brasil) e dos guias ICAO/FAA/EASA para adaptação de procedimentos locais.
O DECEA e manuais nacionais exigem fraseologia padronizada — incorporar esse requisito ao treinamento corporativo reduz erros humanos. :contentReference[oaicite:5]{index=5}
7 — Checklist rápido: antes de falar
Aviate — manter controle da aeronave
Navigate — estabilizar/navegar para área segura
Communicate — comunicar com frases curtas e padrão
Se emergência iminente:
1) MAYDAY, MAYDAY, MAYDAY
2) Estação (ATC/tower) — identificação da aeronave
3) Posição exata / distância e rumo em relação a fixo
4) Natureza da emergência (ex.: engine fire)
5) Intenções do comandante (ex.: pouso imediato em runway 09)
6) Número de pessoas a bordo / combustível restante / necessidades especiais
Imprima e cole no kneeboard. É prático e salva tempo. :contentReference[oaicite:6]{index=6}
8 — Glossário técnico simplificado
- Break
- Pausa/interrupção em transmissão; não é termo de emergência oficial.
- Break Break
- Reforço coloquial para pedir passagem; ambiguidades na aviação.
- MAYDAY
- Sinal internacional de socorro (distress) — vida em risco.
- PAN-PAN
- Sinal de urgência — problema sério, sem risco imediato de morte.
- Transponder 7700
- Código squawk universal para emergência.
9 — Regulamentação e leitura recomendada
Documentos que definem e normatizam a fraseologia (leitura obrigatória para operadores e instrutores):
- ICAO — Manual of Radiotelephony (Doc 9432). :contentReference[oaicite:7]{index=7}
- ICAO — Procedures for Air Navigation Services — Air Traffic Management (Doc 4444). :contentReference[oaicite:8]{index=8}
- ICAO — Annex 10 — Aeronautical Telecommunications, Vol. II. :contentReference[oaicite:9]{index=9}
- FAA — Aeronautical Information Manual (Distress & Urgency Procedures). :contentReference[oaicite:10]{index=10}
- DECEA — MCA-100-16 — Fraseologia de Tráfego Aéreo (Brasil). :contentReference[oaicite:11]{index=11}
10 — Conclusão (sem rodeio)
“Break break” pode impressionar no rádio, mas não salva ninguém. Segurança operacional depende de fraseologia padronizada: MAYDAY para emergência, PAN-PAN para urgência, e procedimentos padronizados por ICAO/DECEA/FAA para coordenação. Treine, fixe scripts, grave simulados e mantenha o kneeboard sempre com o checklist. Comunicação clara significa resposta rápida. Resposta rápida significa vidas salvas.
